O mundo é uma bola quadrada (ou História de um louco de boa memória)
Era meia-noite, o sol brilhava no horizonte. Um velho adolescente vestido sem roupa, com as mãos no bolso, contemplava de olhos fechados a beleza da natureza, e, calado, dizia:
- Prefiro mil vezes a morte do que perder a vida!
Longe dali, bem perto, um cego gritou com a voz baixa:
-Oh, que vejo!
O mudo respondeu:
- Que maravilha!
Naquele instante, horas depois, um careca sentado de pé numa pedra de pau, penteava a sua vasta cabeleira com um pente sem dentes, dizia a um surdo:
- O mundo é uma bola quadrada que gira parada em torno de nada.
O surdo adorou esta frase. Achou-a mais engraçada do que aquela que ele ouvira, no Ipiranga, que dizia “eu cavo, tu cavas, ele cava, nós cavamos, vós cavais, eles cavam, não é bonito mas é profundo”.
Enquanto isso, em um bosque sem árvores, os passarinhos pastavam pelo chão e as vacas voavam de galho em galho à procura dos seus ninhos.
Vendo tudo a quilo, lucidamente, achei que estava enlouquecendo, então corri vagarosamente para casa até chegar à porta da frente dos fundos de casa. Subi descendo as escadas , deitei meu paletó na cama e me pendurei no cabide, onde dormi. Dormindo tive o pressentimento que estava acordado então acordei e vi que eu estava dormindo. Muito tempo depois, um minuto, levantei vagarosamente rápido e dei marcha-a-ré no ventilador. O relógio marcava 20h para comprar um. Fui ao banheiro afinal era hora de jantar. Senti um gosto estranho na boca pois havia comido o guardanapo e limpado a boca com o bife.
Longe dali, bem perto, um cego lia um jornal sem letras, de cabeça para baixo, em que estava escrito “ os quatro profetas do mundo são três: Moisés e Elias”. Um bêbado completamente sóbrio disse que aquela verdade era uma mentira. Quando o cego olhou pra ele, aprendeu que as quatro maravilhas do mundo são três: a mulher e a cachaça.
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