sábado, novembro 19, 2011

Cada um acredita ser feliz à sua própria maneira

Dizem por aí que toda panela tem a sua tampa, toda meia laranja tem a sua metade e tantas outras metáforas simplesmente para convencer que para todo solitário existe uma solitária à sua procura, ou vice-versa. Alguém que seja extremamente compatível contigo, por mais estranho que você seja. Se você coleciona latas de cerveja ou não toma banho todos os dias ou gosta de assistir filmes húngaros sem legenda, saiba que há um alguém do sexo oposto que, se não estiver fazendo exatamente a mesma coisa, pelo menos ficaria impressionadíssimo em conhecer o louco que faça isso. Coisas de gosto. Vai entender.

A Joelma até poderia ser classificada como normal se não tivesse um gosto estranho na hora de escolher os namorados. Apesar de ser chamada de mulherão pelos pedreiros do bairro, ela curtia mesmo era um feio. Feio não, horrível. Terrível. Quanto pior, melhor. Ela se realizava em trocar de namorado sempre que encontrava alguém cuja feiúra lhe chamasse mais a atenção. E como feiura não tem limites, ela pulava de uma relação para outra assim como uma pipoca dentro de um saquinho no micro-ondas. As amigas torciam o nariz a cada monstrinho apresentado. Até tentaram empurrar homens aceitáveis, compatíveis com a beleza da amiga, mas estes não atraíam Joelma além de poucos monólogos. Quando a turma toda saía para se divertir, ela era quem não ficava sozinha por muito tempo. E quando desaparecia, todos sabiam que estava fazendo algum erro ambulante da evolução muito feliz. Na contabilidade do amor cego, vesgo e estrábico, Joelma já pegou caras com nariz maior que a cabeça, de orelhas de abano, vesgos, banguelas, carecas, gordos ao extremo, magros ao extremo, extremos ao extremo, os que tinham tudo isso junto e algum defeito a mais. Enfim, tudo que fosse o oposto ao senso comum de beleza, era visto à tiracolo grudado na Joelma.

Mas ela era feliz, sabe, daquele jeito de quem não encontra concorrentes para tomar os seus namorados. Nunca fora traída. Era paparicada acima do normal por todos a quem dava moral. Ganhava presentes e mais presentes. Ela não ligava que o namorado espantasse gatos, cachorros, bebês e alarmes de carro por onde passasse, que não pudesse aparecer na hora do jantar sob pena de estragar o apetite de todos. E ninguém entendia quando ela dizia se realizar sexualmente com um feio, como se fosse mais que um fetiche, mais que uma tara, uma fantasia, um tabu.

Eu conheci a Joelminha há três anos, quando tomava umas Schincariols com a galera do futebol em um barzinho. Lembro-me bem da data, 24 de fevereiro de 2008, pois foi o dia em que ela me pediu em casamento. Estamos juntos desde então. Até hoje não sei se fui eu quem a curou daquela obsessão ou o que houve. E não quero saber. E tenho raiva de quem sabe.

crônica - Jefferson Luiz Maleski


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