quarta-feira, fevereiro 16, 2011

...mas dói demais ser intensa o tempo todo...

“Tenho muito medo que as pessoas sem profundidade conheçam a minha, e mais medo ainda de que a profundidade do mundo me cuspa. Sou uma sem-terra porque desprezo o superficial, mas dói demais ser intensa o tempo todo, e preciso fazer luzes, compras e sexo casual. Cheia dos meus preconceitos, da vontade que tenho de cagar em cima da cabeça de todo mundo que faz beiço para insinuar sexualidade, de todo mundo que se enfia num terno para insinuar vitória, de todo mundo que se enfia atrás de uma mesa para insinuar vida, de todo mundo que se enfia atrás de uma garrafa para insinuar alegria, de todo mundo que se enfia num bando para insinuar existência, de todo mundo que se esquece no Sol para insinuar luz. Até o topo, até o céu, atolada, tô por aqui comigo. Cansada do meu vício de organizar tudo o que sou e de não deixar espaço para o novo, para o que eu poderia ser, para o que eu nem sei que é. Queria agora que uma asa rasgasse as minhas costas porque, mais do que sentir a dor da liberdade, preciso não ter sexo, nem nome, nem tempo e nem casa. Preciso enxergar e sobrevoar o mundo sem ser eu, para que ser eu não seja este mundo tão pequeno e apavorado. Preciso ser qualquer coisa que eu não saiba.”

Tati Bernardi, em Saca Rolha

sexta-feira, fevereiro 11, 2011

Há em você alguma coisa de mim

Há em você alguma coisa de mim Alguma coisa que eu vejo e me acalma. Como se eu pudesse deitar de novo no lugar de onde vim, pois só você sabe que lugar é esse. Então você me entende...e eu não me entendo tanto quanto entendo de ti. Talvez isso seja amor. Talvez não. Seja lá o que for é incondicional.

Fernanda Young

quarta-feira, fevereiro 02, 2011

terça-feira, fevereiro 01, 2011

Ainda morremos por um homem

Queimamos sutiãs, a Madonna desceu na boquinha da garrafa dentro da igreja, minha mãe me criou repetindo diariamente que nenhum homem presta, Simone de Beauvoir estava linda na foto da bunda com celulite, Carrie Bradshaw deu para Nova York inteira e Lilly Allen canta com fofura e maldade sobre o loser que não nos faz gozar.

Apesar de tudo isso, eu ainda saio derrotada do casamento das minhas amigas, enfio um monte de bem-casados na bolsa para depois comer, sozinha, na cama. Aquele monte de açúcar chamando formigas para minha solidão, minhas companheiras. Eu ainda fico mal pra cacete quando estou sem um namorado. Ou melhor: fico mal sem cacete. (HAHAHAHAHAHAH)

Que plataforma antiga é essa em nossos corações tão modernos? Precisar de homem é como ter um MS-DOS operando em nossos corações de iPad. Precisar de homem é como ter apêndice. Ultrapassado e ainda pode dar problemas. Mas continuamos nascendo com essa falha disfarçada de necessidade primordial. Morremos sem vocês. Não vemos graça no trabalho, não vemos graça nas festas, não vemos graça na vida. Vai ter sempre uma mentirosa "rivotrisada" falando que se depila "para si mesma". Mentira, mentira. Morremos sem vocês. Ficamos peludas, barrigudas e com olheiras sem vocês. Amamos vocês.

A reunião é para decidir algum projeto que vale milhões. Abaixo de nós, subalternos homens que ganham o que gastamos no cabeleireiro. E daí? Em algum lugar de nossas mentes e de nossos peitos angustiados e ansiosos, estamos ignorando todo aquele circo e pensando em vestidos brancos, marchas nupciais, alianças de ouro branco com um pouco de amarelo. Nós morremos sem vocês.

Continuamos precisando de homens. Assim como nossas bisavós. Ou até mais do que elas. Elas precisavam de um bom homem. Nós precisamos do homem. The one. Porque somos melhores que nossas bisas. Porque queimamos sutiãs e a Madonna dançou e a bunda da Simone e a ladainha toda do primeiro parágrafo.

A gente topa se você não tiver lido nenhum livro de Proust. A gente topa se você tiver um carrinho mil. A gente topa se você tirar uma semana ou mais para ter certeza de que banca esse romance. A gente topa que você não seja tudo isso. Porque, no fundo, a gente só quer ter alguém. Embaixo de nossos ternos, ao lado de nossas tatuagens, ou bem no meio de nossos decotes, temos um coração que morre sem vocês. Morremos sem vocês. Amamos vocês. Por favor, não se assustem, por favor. Não, não vamos teatralizar submissões, doçuras, silêncios e burrices. Mas saibam que torcemos bravamente para que vocês nos aceitem tão femininas e tão machas. Nos aceitem e casem com a gente. Somos apenas mocinhas fálicas ávidas por um carinho em nossas almas eretas.

Carrie se casou com Big, Lilly tenta engravidar, Simone chorava de ciúmes no banho, Madonna se enche de botox porque é mais fácil encoxar santo do que assumir rugas, minha mãe implora por netos e meu sutiã só quem queima é a Maria, de vez em quando, quando está distraída pensando no amor.


Tati Bernardi

via @anatsasso